sábado, 20 de outubro de 2012


 


As festas de Santa Augusta em Braço do Norte


As Festas de Santa Augusta em Braço do Norte, S.C.

Por Clara Uliano Della Giustina, em 20 de outubro de 2012.

 

O dia de Santa Augusta é comemorado no dia 22 de agosto. Não sendo este dia considerado “Santo” ou feriado a festa acontece sempre no final de semana mais próximo do dia. A festa mantém a mesma tradição da Itália, com fogos de artifício, as famosas broas com a mesma receita trazida da lá, galinha assada, o churrasco temperado com laranja azeda, pão de ló sem fermento, somente com ovos, açúcar e trigo. Há até alguns anos atrás se servia também quentão e a consertada, mas alguns gostavam tanto que bebiam demais e perturbava quem estava quieto. Hoje se bebe vinho e cerveja. E assim continuamos com muita fé fazendo o que nossos pais e avós ensinaram.

Desde sempre acontece as nove novenas em Honra a Santa Augusta, as mesmas acontecem nos nove dias consecutivos que antecedem a festa.

Em 1990, Cecília Fernandes Oliveira, grande devota a Santa Augusta, percebendo que não tinha imagem da Santa para comprar e nem para ser usada em possíveis procissões enfrentou seu próprio desafio de fazer uma imagem da Santa. Fez, conseguiu.  Fez com barro cru e maciça. Deixou secar e pintou usando as mesmas cores da imagem feita por João Batista. Depois de pronta, ao ser transportada para a capela, a mesma rachou. Seu trabalho foi em vão, mas Cecília não desistiu. Começou outra, agora com barro de olaria, já bem amassado. Deixou uma parte do corpo oca e depois de secar ao natural levava para uma olaria para ser queimada ao forno, juntamente com tijolos. Agora deu certo. Até a imagem ficar pronta, levava uns 3 meses, pois ia modelando tudo a mão e aos poucos.

Cecília fez em torno de umas 10 imagens da Santa Augusta atendendo pedidos de devotos que gostariam de uma imagem em casa.

Depois de ter a imagem, começou-se então a fazer procissão com a mesma no primeiro dia da novena. A cada ano sai da casa de algum devoto que alcança graças e pede para fazer a procissão em forma de agradecimento. 

As imagens que se encontram na Capela desde que a mesma foi feita, são cuidadas como relíquia, nunca foram restauradas, encontram-se originalmente mantidas. O cuidado em manter a capela limpa, toalhas do altar engomadas, com muitas flores, também vem passando por gerações, primeiramente por Maria Casa Grande, depois pela sua nora Angelina, e depois por Clara Uliano, filha de Angelina.

Antigamente se tinha também a tradição de soltar canhões, balões. Os balões começaram pela senhora conhecida como Maria Baloeira, ela fazia o balão, acoplava um cesto, embarcava dentro e subia junto.  Depois Pedro Uliano, filho de Benjamin e neto de João Batista deu continuidade nos balões, mas sem cesto, os mesmos subiam e desapareciam no céu. Com o falecimento de Pedro Uliano, o povo sentiu falta dos tradicionais balões, pois muitas pessoas vinham de longe e só voltavam para casa depois de ver eles subirem. Maria Valdete D. G, sobrinha de Pedro Uliano e muito apegada a ele, sentia muito pesar em não ter mais o tio que tanto gostava e nem ver os balões subirem. Em uma noite, meses antes da festa, antes de dormir pediu em oração ao tio que lhe iluminasse a fazer os balões, pois gostaria de dar continuidade. E de fato aconteceu, ela que nunca viu como se fazia, tentou, fez e os balões subiam. Isto foi uns quatro anos, depois proibiu-se no Brasil inteiro, que devido a grandes períodos de seca que poderia ser um causador de queimadas.

Nas antigas festas as galinhas eram assadas nas casas, em forno a lenha, geralmente os assadores das galinhas era o André e Joana Coan, Francisco e Carmelita Lessa e Maria Prá Coan. Hoje a capela já possui uma assadeira para as galinhas. As broas e os pães de ló eram feitas num pequeno salão da capela, tinha um forno a lenha. Começavam a fazer as broas uma semana antes para dar conta da demanda. Faziam também rosca. Hoje são feitas no forno de padarias da cidade, mas por membros da comunidade. Em uma tarde ficam todas prontas. São necessário umas 20 pessoas ( mulheres e homens da comunidade) para dar conta de mais ou menos nove mil broas, sendo responsáveis Clara Uliano D. G. e Maria Uliano Della Giustina.

A até uns 30 anos atrás, as festas de Santa Augusta aconteciam ao ar livre, pois não tinha lugar coberto para abrigar todas as pessoas. Os churrascos eram assados em espetos de bambu, feitos em mutirão pelos membros da comunidade e sobre a responsabilidade de Antonio Coan. As pessoas compravam os churrascos e iam comer no pasto. Era um verdadeiro piquenique. O churrasco espetado no chão, bebidas, pães e  ali passavam grande parte do dia, conversando com os amigos, a criançada correndo e se escorregando na grama.

Hoje, em 2012, a Capela já consegue abrigar todos os devotos que vêm na festa.

Na década de 1970, com esforço da comunidade e rendas da festa, foi construído um salão para as festas e também uma churrasqueira grande. O tempo foi passando e o ambiente já foi ficando pequeno. Novas instalações já foram feitas. Temos hoje dois salões prontos com cozinha montada, e mais um em andamento, pois já se faz almoço para servir no dia da festa. Um dos salões é reservado para a celebração da missa que acontece sempre uma vez por mês.

Todas estas melhorias que estão acontecendo são graças a comunidade do Bairro Santa Augusta e a igreja, que caminham juntos.

Muitas pessoas procuram a capela para realizarem a cerimônia de casamento e ou batizado, por ser um ambiente aconchegante e histórico.

 

A vida de João Batista Uliano, construtor da capela.


A vida de João Batista Uliano, construtor da capela de Santa Augusta em Braço do Norte, S.C.

                                        Por Clara Uliano Della Giustina, em 20 de outubro de 2012.

João Batista Uliano nasceu na Itália no dia 16 de maio de 1846. Foi um dos primeiros imigrantes italianos que chegou nesta região em 1872. Na Itália tinha se casado com Maria Casa Grande nascida em 18 de outubro de 1849. Era chamada de Maria Casa Grande, por morava em uma casa grande construída pelo governo, após a guerra, para abrigar crianças órfãs. que abrigava pessoas.  Como a situação financeira lá não estava boa, João resolveu aproveitar uma passagem gratuita que o governo oferecia para quem quisesse tentar a vida no Brasil. Eles tinham três filhos: Jacó, Antônio e José, Maria estava grávida do 4º filho, por este motivo João veio sozinho, para depois voltar buscar a família.

Chegando a Laguna, viaje feito de navio, João logo arrumou serviço de pedreiro e construiu o hospital de Laguna, todo de pedra, existente até hoje, que passou por reforma e foi aumentado. Depois também fez a igreja em Urussanga. Conseguindo algum dinheiro veio para os lados de Braço do Norte a procura de um terreno para comprar e fazer uma casa para poder ir buscar a família que ficou na Itália. Comprou o terreno onde hoje se denomina bairro Santa Augusta.

Levantou quatro paredes e ali estava sua casa tão sonhada para poder abrigar a família que tanto sentia falta. Então voltou a Itália buscá-los e também conhecer seus filhos gêmeos, os quais ela estava esperando quando ele veio para o Brasil. Viajaram 33 dias de navio. Um dos gêmeos adoeceu na viagem e sem recursos no navio, veio a falecer. O mesmo foi envolto em um lençol e jogado ao mar com grande tristeza, mas esta era a ordem. Isto ocorreu em 1875.

Com a família já instalada continuou sua vida sem medir esforços e trabalho para conseguir uma casa melhor. Logo depois começou construir uma nova casa, agora bem maior, com dois pisos, tudo bem grande. E a família também foi aumentando. Tiveram doze filhos: Jacó, Antonio, José, João Batista Filho, Joanes Domenico (que faleceu na viagem), Luiz, Augusto, Carlos, Rafael, Constante, Benjamin e a única filha mulher Catarina. Destes doze filhos obtiveram 97 netos. Quando o filho Luiz estava com seis anos, veio para o Brasil um tio que não tinha filhos e levou Luiz como filho que mais tarde morreu na guerra deixando esposa e duas filhas: Antonia e Marieta.

João Batista trabalhava muito em construções como pedreiro quando começou com uma forte dor de dente, com os remédios caseiros não conseguia aliviar a dor, dentista não havia na época. O mesmo apegou-se então em sua protetora Santa Augusta, a qual possuía grande devoção desde quando morava na Itália, ele tinha muita fé, pois a mesma era conhecida como a protetora dos dentes e da cabeça.

O mesmo fez uma promessa de construir uma gruta ao lado de sua casa, com a imagem de Santa Augusta, caso fosse curado da dor. Em poucos dias a sua dor de dente sumiu. Ele começou fazer as escavações para construir a gruta quando seus vizinhos vieram saber o que ele iria fazer ali. Com a revelação, seus vizinhos (famílias Coan, Prá e Della Giustina) propuseram unia-se a ele e construir um templo maior, uma capela onde pudessem juntar-se para rezar o terço. Então veio a questão, e o terreno? Então decidiram ir falar com a família dos Guizoni para ver se vendiam um morro muito bonito que tinha nas suas terras e assim ficava parecido com o Santuário da Santa Augusta da Itália, que também ficava no topo de uma colina. Foram e conseguiram negociar. Os Guizoni cediam o morro, mas em troca queriam que eles dessem uma estrada aberta na estrema de suas terras com a dos Schilickman. E assim aconteceu, abriram a estrada com pás, picaretas e enxadas. Em seguida derrubaram o mato e plantaram feijão para vender e arrecadar dinheiro para a construção da capela. Colheram o feijão e deram inicio a obra. Os tijolos foram feitos com barro amassado por cavalos. Em poucos meses a capela ficou pronta. E agora as imagens para colocar no altar? Dinheiro ninguém tinha, mas João Batista não desanimou. Ele disse que era preciso encontrar um bom barro, que iria colocar pelos de animais misturado com o barro para evitar rachaduras e iria tentar fazer as imagens. E assim fez. São as mesmas imagens que se encontram no altar da capela. No centro temos a imagem de Santa Augusta e ladeada por São Pedro e São Paulo. Hoje (outubro de 2012) são 124 anos de existência e estão perfeitas.

Logo depois chegou o sino vindo da Itália. Não tinha torre na capela então o mesmo era pendurado em um suporte de madeira. O mesmo era Bento para espalhar tormentas. Esta tradição acontece até hoje. Sempre que se forma uma trovoada, devotos sobem a colina, batem o sino e logo após, a trovoada se espalha. Quando se demora a alguém ir bater o sino, os vizinhos já ficam preocupados, será que não bater o sino para a trovoada se espalhar? E quando se ouve o ressoar do sino todos se tranquilizam.

Agora estavam satisfeitos, pois tinham um local para fazerem suas orações já que no centro da cidade não eram bem recebidos por causa da linguagem, eles rezavam em latim e os brasileiros não gostavam. Então faziam as rezas em horários diferentes.

Passados alguns anos João Batista Uliano escreveu para o padre do Santuário de Santa Augusta de Vitório Veneto (na Itália), informando da construção da capela aqui no Brasil e que gostaria também de ter uma relíquia da Santa. No mês seguinte, precisamente em 05 de agosto de 1898 recebeu o relicário, uma falange do dedo polegar de Santa Augusta juntamente com o certificado de legitimidade assinado pelo Bispo Don Segismundo Cescon da diocese de Vitório Veneto atestando a veracidade da Relíquia.

Em 1939 foi construída a torre da capela. João Batista já havia falecido. Faleceu em 1902. O filho Benjamin e os outros Della Giustina e Coan então realizaram mais este sonho de João Batista.

E a devoção a Santa Augusta só foi crescendo.  Os descendentes e as novas gerações seguiam os passos dos imigrantes preservando a tradição e a fé.

Em viagem à Itália, Padre Joacir Della Giustina visitou o Santuário de Santa Augusta e convidou o vigário de lá Padre Pietro Paolo Carrer para conhecer a capela aqui em Braço do Norte, ele aceitou o convite e em 1991 veio para o Brasil visitar a mesma. Ele se encantou com a beleza do local e com a devoção que temos pela Santa Augusta e disse que não devemos dizer capela e sim Santuário, pois contém uma parte do corpo de Santa Augusta.